Finalmente, hoje, em
artigo na Folha de S.Paulo, Aécio Neves admite que o Aeroporto de Cláudio,
junto a sua fazenda, serviu para sua comodidade pessoal, em atividades
rigorosamente privadas.
E que a obra (que entre
contratos e desapropriação custou, em dinheiro de hoje, mais de R$ 20 milhões)
que consumiu farto dinheiro público, por não homologada e sem controle público
já há quatro anos, só teve mesmo a serventia de dar-lhe este privilégio.
Mais importante que a
semi-confissão do candidato tucano é o que o levou a ela, 11 dias depois de
revelado o escândalo pela própria Folha.
Depois de várias
gaguejadas e diversos “de novo este assunto?” irritados, Aécio tomou essa
iniciativa, sem sombra de dúvida, porque as pesquisas internas do tucanato
revelaram o estrago que isso fez em sua campanha.
Não foi um ato de
honestidade, de quem quer e pode sustentar as atitudes que tomou.
Fosse assim, não teria
se evadido de dizer, antes, o que diz agora.
O fez por três fatores,
todos sem qualquer dignidade.
O primeiro é que sabe
que existem provas deste uso. Não se descarte, até, que tenha sofrido ameaças
de que elas seriam reveladas.
O segundo é que só
tomou esta atitude depois que as pesquisas eleitorais internas do PSDB
mostraram que o estrago não apenas era grande como está se agravando à medida
em que o conhecimento da situação se amplia.
O terceiro, mais grave
e por isso capaz de continuar ceifando o seu prestígio e o respeito pessoal que
possa ter, é o que se provou um homem moralmente covarde.
Precisou ser exposto
diariamente às suas contradições e omissões – ou, pior ainda, ser ameaçado por
alguém que tinha provas do uso do aeroporto – para confessar que fez, por
diversas vezes, uso particular da pista que a ninguém mais servia.
Depois disso, quem
acredita na já implausível afirmação de que a obra milionária se justificava
pelo “grande pólo industrial” que é aquele município de menos de 30 mil
habitantes? Ou que o negócio entre o Estado e o tio, que tinha os bens
bloqueados, não foi bom pela família, até porque parte do depósito já foi
levantado pela tia, num processo tumultuado de separação e com, inclusive, uma
ação de interdição por um dos filhos?
Aécio abaixou o bico.
Diante da mentira que
pregou, durante 11 dias, a todo o país e à imprensa, desqualificou-se
moralmente para dizer qualquer coisa.
A confissão tardia e
cínica não lhe perdoa, exatamente porque é tardia e cínica.
Ficou do tamanho que é:
um herdeiro de oligarquias, que controla e uso o poder que o sobrenome foi lhe
trazendo e que trata o exercício do poder com a mesma irresponsabilidade que
lhe valeu a fama de playboy mimado.
Resta saber o que não
fazer com ele: se é melhor deixar que o fracasso recaia sobre sua
inconsistência moral ou se tentarão uma muito improvável nova via para disputar
as eleições.
O aeroporto de Cláudio
foi sua bolinha de papel.
E essa, sim, capaz de
provocar um estrago imenso.
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